segunda-feira, 10 de agosto de 2015

MINHA HISTÓRIA COM MEU PAI

Não existem fotos comigo e você. Nada palpável que me mostre nós dois abraçados, pertinho ou no colo. Mas identificar a tua presença em minhas memórias, é mais rápido do que manusear um álbum de fotografias. E hoje nesse momento contarei a nossa história.
Até os 7 anos não identifico sua presença em minha memória, quando acordava ele tinha ido trabalhar e quando eu dormia ele ainda não havia chegado, e foi assim por muitos anos. Eu só o abraçava 3 vezes no ano: no revellion, no meu aniversário e no dele. Meu Pai era alcoolatra e adorava arrumar namoradas, eu tinha muito ressentimento por isso, minha mãe sofria e eu me revoltava. Mais pelas namoradas, por que pelo alcoolismo não, pois ele não nos incomodava. Apesar disso era um excelente dono de casa, vivíamos na simplicidade e nada nos faltava com eles aprendemos a viver. Aos 15 anos entrei para o espiritismo e logo estava fazendo palestras, abraçava todo mundo com muita facilidade, por que afeto sempre foi e será transbordante em minha alma. Mas o fato de não lhe abraçar era por demais difícil, e me perguntava como posso abraçar tantos desconhecidos e não poder abraçar o meu Pai?
E como tudo é um exercício, dei o primeiro passo. Além do tradicional pedido para que ele me abençoasse ao sair e ao chegar ( e hoje pedir a benção caiu ao esquecimento) forcei a primeira aproximação, e fui em direção a sua cabeça ele era careca e a minha boca quase não tocou a sua cabeça , mais chegou perto. Percebi que ele olhou admirado e que seus olhos se emocionaram. E vi o quanto no silencio de seu coração ele também queria esse gesto de afeto e carinho.
Os dias foram passando e eu nesse exercício, por que era um exercício, que continuava até o dia em que finalmente já não era exercício e se tornou ato contínuo de sentir a necessidade de beija-lo e adorar receber seu sorriso largo e feliz por está sendo amado. Mais prazeroso ainda era após o beijo o diálogo que se seguira: ! abenção meu Pai e ele dizia: Deus te abençoe filha,!Deus te faça feliz.!!.
Os anos passaram e esse amor aumentava tanto, e Deus e a vida foi tão maravilhosa comigo que no final ele foi morar comigo, eu já não o chamava de Pai, mas de Bebê. Por que foi assim que ele se tornara um bebê, dificuldades para andar, lentidão para comer. Enfrentou nos últimos anos de vida 12 anos de hemodiálise, sem queixas e nunca vi uma pessoa lutar tanto por viver. E tanta resignação. Desencarnou em minha casa e pudemos entrega-lo a essa passagem com respeito, apesar da dor.
Mim ensinou o valor da honestidade, da consciência tranquila, da lisura e do trabalho. Mim ensinou ser uma cidadã e me mostrou os valores de estudar e aprender. De respeitar as pessoas e todos os seres vivos.
E hoje é um dia onde sempre acordo triste e em lágrimas, por que esse silêncio e essas lembranças, é tudo o que me restam dele e de sua presença. Mais o que mais dói é não ouvir : !Deus te abençoe filha , Deus te faça feliz! Por que para mim isso era um decreto, uma oração que me imunizava a toda dor e me fortalecia os dias, sai de casa e voltar sob essa benção era me sentir protegida e segura.
Mais deu tempo de beija-lo e olhar para seus olhos sorrindo, com o coração cheio de alegria por receber amor, enquanto eu o beijava, deu tempo de dizer que o amava, deu tempo de sair do abraço ocasional, e sentir essa saudade danada hoje, não pelo o que deixei de fazer, mais por ter sentido como foi bom me rasgar da pele do orgulho, para eternizar aquele primeiro beijo que se tornou o marco dessa história de puro amor, gratidão e saudades sem remorsos.
De me permitir passar pela vida e cumprir meu papel de filha integralmente e amorosamente. E descobrir o que faz o amor em minha alma. Gratidão Pai!!, sem poder ouvir o que gostaria nesse dia, sem poder abraça-lo e te beijar mais, porém a pleno pulmões e com toda da minha alma, sem poder jamais me eximir, te falo: Bom dia! EU TE AMO. Feliz Dia dos Pais, bebê.

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